O sono, embora caracterizado por seu estado de quiescência e resposta reduzida, não é um simples estado de repouso, mas sim um estado cíclico de transições periódicas entre o sono de movimento rápido dos olhos (REM) e não-REM (NREM). Em conjunto com o cérebro e outros órgãos, o sistema cardiovascular consegue a restauração homeostática durante o sono, principalmente através do controle circulatório autonômico (pelo sistema nervoso periférico). Por exemplo, a diminuição da pressão arterial durante o sono, “imersão”, é um importante biomarcador da saúde cardiovascular.
Durante o sono NREM, a maior parte (até 80%) ocorre redução significativa da pressão arterial e da frequência cardíaca, maior queda ocorrendo durante o sono de ondas lentas. Esse ambiente saudável, facilita ao sistema cardiovascular a manter a homeostase. Por outro lado, o sono REM – que ocupa cerca de 20% do sono total - é dominado por flutuações acentuadas no equilíbrio simpático-vagal (pico irregular de surtos simpáticos contra um fundo de inibição tônica vagal), que levam a mudanças abruptas na pressão arterial e na frequência cardíaca. O sono caracteriza-se por um equilíbrio de períodos de tranquilidade e turbulência, se esse estado é desequilibrado pode ser ruim para o organismo.
Com a era industrial os hábitos de sono que antes era mais padronizado e saudável começaram a mudar, devido a vários fatores tais como mais horas de trabalho, mais trabalho por turnos, reduzindo consequentemente a duração média do sono na sociedade moderna. Aliado a isso o advento da eletricidade e seus itens que a utilizam, como smartphones, lâmpadas (fluorescente e led), televisão, são outros fatores que podem ter contribuído com o aumento do relato de fadiga, cansaço e sonolência diurna excessiva, na sociedade moderna.
O aspecto mais preocupante relacionado a falta ou o excesso de sono é porque ela exerce efeitos deletérios em uma variedade de sistemas, tais como nas vias metabólica, endócrina e imune. Muito pouco ou muito sono está associado a efeitos adversos à saúde, incluindo na taxa de mortalidade, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, distúrbios respiratórios e obesidade em crianças e adultos.
Fatores de risco modificáveis, como pressão alta (hipertensão arterial), colesterol elevado, aumento de triglicerídeos, sedentarismo, tabagismo, diabetes e dieta pouco saudável são responsáveis por cerca de 90% do risco de acidente vascular cerebral. No entanto, a incidência de acidentes vasculares cerebrais não caiu significativamente em adultos jovens e ainda está crescendo em países de baixa e média renda. Um dos fatores que vem sendo investigado é a qualidade do sono nesse processo.
A relação entre duração do sono e eventos vasculares é em forma de U sugerindo que mecanismos diferentes podem operar em cada extremidade do ciclo de distribuição da duração do sono. Estudos mostram um risco aumentado de desenvolver ou morrer de Doença Arterial Coronariana e Acidente Vascular Cerebral, em qualquer um dos extremos da distribuição da duração do sono. Ou seja, indicam que os que dormem pouco e os que dormem muito, têm um risco maior de infarto e AVC do que aqueles que dormem entre 7-8 h por noite.
Fontes utilizadas para mais detalhes acessem os links :
Yetish, G., Kaplan, H., Gurven, M., Wood, B., Pontzer, H., Manger, P. R., Wilson, C., McGregor, R., … Siegel, J. M. (2015). Natural sleep and its seasonal variations in three pre-industrial societies. Current biology : CB, 25(21), 2862-2868.
CAPPUCCIO, F. P. et al. Sleep duration predicts cardiovascular outcomes: a systematic review and meta-analysis of prospective studies. Eur Heart J, v. 32, n. 12, p. 1484-92, Jun 2011.
Koo, D. L., Nam, H., Thomas, R. J., & Yun, C. H. (2018). Sleep Disturbances as a Risk Factor for Stroke. Journal of stroke, 20(1), 12-32.
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